terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

E na outra noite, ele falou assim:

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Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão vazio,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


[citando, Carlos Drummond de Andrade]



Depois, ele cantou pra eu dormir:
http://www.youtube.com/watch?v=_PhusnHhs4I


Barão Vermelho canta, Tua Canção


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2 comentários:

Stéphanie Pastori disse...

eu amo seu blog, simples assim!

Sol Brito disse...

Amo essa música do Barão...linda...!!